Nos dias de hoje com o aumento dos índices de obesidade mórbida, um número crescente de casos de hipertensão ocorre em pessoas com excesso de peso. Vários pacientes com hipertensão utilizam duas ou mais medicações para atingir o controle da pressão arterial, o que cria desafios na adesão adequada ao tratamento. Além disso, alguns estudos demonstram que a hipertensão é mal controlada em pacientes com obesidade.
A cirurgia bariátrica representa o método mais eficaz para tratar a obesidade. Embora muitos esforços recentes de pesquisa tenham focado na melhora metabólica e na resolução do diabetes mellitus, estudos prévios sugerem que uma porcentagem significativa de pacientes com obesidade e hipertensão pode reduzir ou descontinuar seus medicamentos anti-hipertensivos após a cirurgia bariátrica.
Com o intuito de demonstrar benefícios no controle e melhora da hipertensão após a cirurgia bariátrica, pesquisadores brasileiros projetaram o estudo GATEWAY. Neste estudo foram escolhidos 100 pacientes com hipertensão (usando dois ou mais medicamentos) e um índice de massa corporal (IMC) entre 30,0 e 39,9 kg / m2. Os pacientes foram divididos em dois um grupos: no primeiro grupo foram submetidos a cirurgia bariátrica (bypass gástrico) e remédios para hipertensão; o segundo grupo os pacientes apenas utilizaram terapia médica isolada. O objetivo do trabalho visava a redução de pelo menos 30% do número total de medicamentos anti-hipertensivos, mantendo a pressão arterial sistólica e diastólica menor que 140 mmHg e 90 mmHg, respectivamente, após 12 meses.
O estudo GATEWAY demonstrou que, após 12 meses, pacientes com obesidade e hipertensão submetidos a bypass gástrico mais terapia medicamentosa foram propensos a reduzir em 30% do número de medicamentos, mantendo a pressão arterial controlada do que os pacientes tratados apenas com terapia medicamentosa. Notavelmente, metade dos pacientes do grupo cirúrgico foram capazes de manter a pressão arterial menor que 140/90 mmHg, respectivamente, sem a necessidade de medicamentos (remissão da hipertensão), enquanto nenhum paciente do grupo controle estava livre de medicamentos aos 12 meses de estudo. Além disso, pontos finais exploratórios como o número de medicamentos anti-hipertensivos, circunferência da cintura, IMC, glicemia de jejum, resistência à insulina, hemoglobina glicada, colesterol, triglicérides e ácido úrico por um ano foi menor no grupo cirúrgico do que no de terapia médica. Assim, apesar do fato de os grupos terem níveis de pressão arterial semelhantes aos 12 meses, os pacientes submetidos ao bypass gástrico conseguiram atingir esses níveis com poucos ou nenhum medicamento e também tiveram seu perfil metabólico melhorado.
Como conclusão a pesquisa define que a cirurgia bariátrica representa uma estratégia eficaz para o controle da pressão arterial em uma ampla população de pacientes com obesidade e hipertensão. Vale lembrar que apesar da melhora ou, eventualmente a ausência de uso de medicações após a cirurgia, o acompanhamento regular com o Cardiologista e a equipe multidisciplinar deve ser continuo.
Dr. Felipe Rossi (CRM 142.064)
Para ler a pesquisa completa: https://www.ahajournals.org/doi/pdf/10.1161/CIRCULATIONAHA.117.032130