Dúvidas frequentes dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica envolvem a questão do uso de vitaminas. Qual o melhor polivitamínico? É para a vida inteira? Eu fiz o bypass, mas minha amiga fez a gastrectomia vertical e uso o mesmo polivitamínico que ela, por que? Vitamina engorda? Qual a melhor forma para reposição de vitaminas em cirurgia bariátrica? São algumas das perguntas que assombram a mente dos pacientes. Esclareceremos aqui algumas dessas dúvidas e quebraremos alguns mitos.
O primeiro ponto a ser levado em consideração é que a cirurgia bariátrica, tanto a gastrectomia vertical, quanto o bypass, promovem alterações no trato digestivo que, associadas às alterações na ingesta alimentar tornam necessária a complementação de vitaminas e minerais à alimentação através dos polivitamínicos, mesmo para aquele paciente com adequada ingesta alimentar. Ou seja, o uso de polivitamínicos é uma forma de complementar a alimentação pós cirurgia bariátrica, com intuito de preservar o estado nutricional do paciente.
Além disso, tendo em vista as alterações anatômicas e funcionais da cirurgia no trato digestivo serem permanentes, ou seja, para o resto da vida, o uso dessa complementação também o será, independente da técnica cirúrgica utilizada. E não, o uso adequado da complementação polivitamínica não fará o paciente engordar!
Nesse contexto, a avaliação clínica, nutricional e laboratorial do paciente é fundamental. Por vezes é detectada alguma deficiência vitamínica ou de minerais até mesmo no pré-operatório, pois o paciente obeso pode representar o paradoxo do excesso (de gordura) e de deficiências (protéicas, minerais ou de vitaminas) concomitantes, reflexo direto de sua alimentação com erros tanto na qualidade quanto na quantidades de cada componente da dieta.
Dessa forma, a suplementação adequada sempre de forma individualizada por médico e nutricionista com experiência em cirurgia bariátrica e a avaliação laboratorial de rotina é importante inclusive pelo fato de algumas deficiências serem silenciosas, ou seja, não causarem sintomas (como a osteopenia e a osteoporose em decorrência de deficiência de cálcio).
A porcentagem de absorção pelo trato digestivo dos nutrientes ingeridos (tanto da alimentação quanto da complementação) é individual para cada paciente, de modo que o paciente deve evitar comparações como “minha amiga fez a mesma cirurgia que e eu e as vitaminas dela estão normais” ou “a vitamina que meu amigo toma é mais forte que a minha”. A complementação de vitaminas e minerais é sempre realizada para os pacientes submetidos a cirurgia bariátrica, mas é o seguimento multidisciplinar que garantirá a individualização para cada caso.
Sabendo agora que amigos e conhecidos não são parâmetros de comparação para essa questão, frisamos que deve-se sempre seguir as orientações da equipe multidisciplinar e evitar a auto-medicação, pois o excesso de vitaminas pode ser deletério para o organismo (como a vitamina D que em excesso pode ser tóxica para os rins).
Há diversas formas de apresentação dos polivitamínicos (comprimido, liquido, mastigável), mas sua ingestão é sempre diária. O uso de injetáveis (mensal ou semanal) fica restrito para casos selecionados, até porque não são todas as vitaminas que possuem apresentação injetável. O uso de polivitamínicos formulados pode ser utilizado desde que feito por profissional médico capacitado e a medicação confeccionada em uma farmácia de manipulação confiável.
Como já dito, algumas deficiências de vitaminas e minerais são silenciosas. Porém alguns sintomas podem ser manifestações de algumas deficiências como dormência e formigamento na deficiência de vitamina B12, fraqueza devido a anemia na deficiência de Ferro, entre outras.
A queda de cabelo ocorre em geral nos primeiros meses de pós-operatórios e é uma manifestação fisiológico do organismo em resposta à rápida perda de peso. Em geral é difusa (ou seja, não em áreas específicas do couro cabeludo) e transitória, podendo estar associada a deficiências de Ferro, Zinco e/ou Complexo B.
Algumas deficiências tem maior probabilidade de acontecer quando a técnica cirúrgica gera um efeito disabsortivo (como o bypass). Por exemplo, a deficiência de Ferro e das vitaminas que dependem da gordura (chamadas de vitaminas lipossolúveis) como a A, D, E e K.
Compreendendo, agora, um pouco mais sobre a complexidade da reposição de vitaminas em cirurgia bariátrica, cabe ao paciente deixar de lado alguns dogmas como o medo de engordar tomando os polivitamínicos prescritos e assumindo a necessidade de seu uso pelo resto da vida, inclusive com adaptações às particularidades das idades mais avançadas. É de fundamental importância não realizar a auto-medicação ou auto-suplementação, seguir as orientações médicas e nutricionais da equipe que o acompanha (a qual deve ter experiência em cirurgia bariátrica) e acima de tudo lembrar que seus hábitos alimentares são importantes não apenas para manter a perda de peso alcançada no pós-operatório, mas também para manter o peso de forma saudável, pois a complementação dos polivitamínicos nunca irão substituir uma boa alimentação.
Dr. Ricardo Moreno CRM 157.372